Pouco mais de quatro décadas atrás, Telmo Thompson Flores pretendia implantar em Porto Alegre um programa de planejamento familiar, através de convênio com a Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil, a Bemfam. A pretensão era clara: conter a natalidade desenfreada nas classes menos favorecidas, com orientação às famílias e distribuição de pílulas anticoncepcionais e outros contraceptivos.
O então prefeito da Capital foi derrotado pela Câmara Municipal. Os vereadores de oposição pulverizaram a idéia, alegando que se estaria entregando a uma organização com ligações estrangeiras (leia-se EUA) os destinos das famílias das vilas populares da cidade.
Hoje, a Bemfam é uma das tantas ONGs que vicejam pelo Brasil. E Porto Alegre, segundo os dados mais recentes, tem quase 300 mil pessoas vivendo em núcleos ou vilas irregulares.
A chafurdada no passado tem por objetivo lembrar que Telmo Thompson Flores, falecido em 2008, foi um prefeito que não esteve preocupado apenas com viadutos e túnel. Ele também tratou da questão social, e muito. Abstraído o natimorto programa de planejamento familiar nas vilas populares, foi à época de Thompson que se implantaram os Centros Comunitários em zonas periféricas de Porto Alegre. E foi neles que as populações menos aquinhoadas passaram a poder freqüentar piscinas no verão, dispor de canchas poliesportivas ao longo do ano e participar de cursos profissionalizantes.
Na questão habitacional, Thompson também inovou, implantando as primeiras unidades da Vila Nova Restinga, hoje uma quase-cidade encravada na zona sul da Capital.
Quanto ao túnel e aos viadutos – sem esquecer as obras nas avenidas perimetrais, Thompson teve a visão de futuro de que aquele momento – início dos anos 70 – era o correto para colocar em prática os planos previstos pelo Plano Diretor de 1959. E o decorrer dos anos provou que se ele não tivesse tido esta iniciativa de há muito nossa cidade teria simplesmente paralisado.
Ele morreu aos 87 anos, coincidentemente no dia em que se comemoravam os 36 anos de existência do Parque Moinhos de Vento, o Parcão, uma das principais áreas verdes públicas de Porto Alegre, que ele deixou como mais uma de suas obras para a cidade.