No início dos anos 80, quando surgiu o PT como alternativa sem mácula no já então viciado quadro político brasileiro, jornalistas das redações de todo o Brasil abraçaram a nova causa, entusiasmados. Era legal ver parte significativa da redação de ZH, por exemplo, engajada nas campanhas do PT para chegar ao poder. Levavam enroladas para o local de trabalho suas bandeiras vermelhas com a estrela amarela e, encerrado o ciclo de trabalho, corriam para se integrar aos demais simpatizantes do partido que assomavam as ruas e avenidas de Porto Alegre para fazer os pioneiros bandeiraços; ou para colorir com um mar vermelho o largo da Epatur ou o Largo Glenio Peres, onde normalmente ocorriam os showmicios de final de campanha.
Não recordo qualquer comentário desabonatório a este engajamento político explícito por parte dos demais colegas que porventura não comungavam das mesmas ideias.
Os momentos mais marcantes desta corrente jornalística pró-PT ocorreram na eleição de Olívio Duutra, primeiro para a prefeitura e depois para governador, e tiveram sua culminância com a chegada de Lula ao cargo de chefe supremo da nação.
Eram realmente outros tempos.
Agora, 35 anos depois, e com o PT indelevelmente maculado pelos escândalos do mensalão e do petrolão, desvirginado pelas alianças de ocasião com ACM, Sarney, Calheiros, Collor e Maluf, entre outros, aqueles colegas que se faziam admirados por seu jovem entusiasmo na defesa do novo, agora culpam a imprensa (a famigerada mídia golpista) por tudo o que está acontecendo no Brasil. E, pasmem, chegam ao extremo de, mesmo sendo jornalistas, pregar o fechamento de veículos de comunicação que acusam de parciais porque não se calam diante do descalabro praticado por governantes do partido. Será que voltaremos ao ambiente dos anos de chumbo, em que o Estadão publicava receitas culinárias na primeira página para denunciar aos brasileiros a censura que vinha sofrendo?
Colegas, não há informação sem jornalistas, assim como não existe democracia sem liberdade de expressão.